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Copa do Mundo e política

Enquanto as atenções se voltam cada vez mais para as emoções da Copa do Mundo na Rússia, a política brasileira já está com o seu time em campo às vésperas do segundo tempo, vivendo momentos decisivos para as eleições. A menos de quatro meses para o “grande dia”, pré-candidatos e partidos devem intensificar o jogo de negociações em busca de melhores posições para a largada da disputa. E isso vale para todos os cargos pleiteados (deputados estadual e federal, senador, governador e presidente da República). Por isso convém manter atenção redobrada às movimentações dos bastidores da política ao longo das próximas semanas, que se arrastarão até o período de convenções partidárias, entre o fim de julho e o início de agosto.
É o começo da definição das alianças. O principal evento para olhar daqui até o fim da Copa é como essas forças se movimentam. Enquanto o período de campanha não começar, as expectativas são de que não se observem grandes alterações no quadro de intenções de voto das mais distintas pesquisas eleitorais.
Em ano de Copa do Mundo, temos boa razão para refletir sobre a antiga, e muitas vezes efervescente, relação entre esporte e política. Misturar política e futebol, no Brasil, é tradição que vem desde a década de 1930, quando Getúlio Vargas anotou em seu diário, com certa surpresa, que a derrota do Brasil na Copa de 1938 causou “uma grande decepção e tristeza no espírito público, como se tratasse de uma desgraça nacional”.
Alvo de discórdia em muitas rodas de discussão, o debate a respeito da influência da Copa do Mundo – mais especificamente a colocação final da seleção canarinho – sobre os resultados eleitorais a serem conhecidos em outubro de 2018 está a todo vapor. Afinal, se o Brasil levar o caneco, certamente o perfil do voto poderá ser impactado (ou não) pelo desempenho do time, ou seja, de alegria ou protesto, embora num mundo ideal isso fosse contundentemente descartado. Não deveria ser assim, mas é o que acontece.
Como os eleitores não são homogêneos, vivem vidas diferentes e pensam de forma diferente, imaginar que suas preocupações e expectativas são iguais não faz sentido, o mesmo ocorre no quesito separação política/esporte. Setores mais ortodoxos da esquerda utilizam a ideia de que o torcedor grita gol enquanto é explorado. Mas você também está sendo explorado enquanto lê seus autores preferidos ou assiste a um filme iraniano. Como toda expressão popular, o futebol está inserido na indústria cultural. Achar que qualquer ideia associada a ele vai ser automaticamente assimilada é uma visão ultrapassada.
É óbvio que o futebol nem sequer no Brasil desperta hoje “aquela” paixão dos tempos em que o País ganhava uma Copa atrás da outra e se identificava com a bola bem jogada. Sabemos que o futebol, paixão quase universal, carregada de símbolos, foi profanado por corruptos da Fifa. Mas, ainda assim, continua vivo nas veias de milhões de brasileiros e, já que o jogo está em andamento, cabe ao eleitor/torcedor uma definição precisa, bem pensada e criteriosa para quem vai torcer em outubro.
Certamente o hexa conquistado na Rússia poderá ser um remédio que reanime o desejo de querer renovar também a política para recomeçar, com gente nova, um processo mais limpo e com mais vontade de mudar as coisas. Goiás merece essa chance de ter verdadeiros e compromissados representantes em todas as esferas. Precisamos vestir uma só cor para dar a força que o nosso País necessita. Juntos poderemos recompor o Brasil, que, de país do futuro, se viu descarrilar em um presente sem rumo.
Eu prefiro que a política não desapareça do discurso público, que os políticos corruptos continuem a ter seus malfeitos rememorados, que estejamos atentos aos efeitos deletérios que determinadas escolhas políticas produziram e ainda vão produzir em nossas vidas e que a política não seja nublada pelos efeitos de um hexacampeonato.
Uma coisa é certa: o clima turbulento no País, com crise econômica e sucessivos escândalos de corrupção, parece ter fortalecido a “torcida do contra”, mas que prevaleça, sobretudo, a “torcida da renovação”.
É inegável que as eleições deste ano abrem uma oportunidade para essa renovação da política brasileira, em um momento no qual todas e todos clamamos por mudanças profundas.
A alternância de poder é sem dúvida uma evolução da democracia participativa. A mudança quebra as possíveis teias da corrupção, quebra o marasmo, oxigena as instituições, incentiva o bom debate. A renovação política se faz necessária nesse péssimo cenário de representação parlamentar que vivemos atualmente.
Precisamos, sim, de políticos sérios, honestos, competentes e verdadeiramente dedicados à sociedade e à comunidade onde vivem. Pessoas que já tenham demonstrado ao longo de sua história compromissos com o bem-estar da população. Precisamos eleger candidatos não “profissionais”, os quais, na maioria, já trazem “vícios” políticos.
Não se trata de um desafio pequeno, mas não temos dúvidas de que esse é o único caminho a ser seguido se queremos ver transformações verdadeiras na forma como a política é feita, e se queremos uma democracia na qual as pessoas se sintam verdadeiramente representadas. (Prof. Alcides Ribeiro – Empresário, professor e diretor-geral da Faculdade Alfredo Nasser)

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